Após semanas com graves focos de incêndio na região da Patagônia argentinaRed Tiger Gaming Luckia, no sul do país, o governo de Javier Milei anunciou a inclusão de um grupo indígena mapuche na lista de organizações terroristas ao acusá-lo de estar por trás do fogo.
Os incêndios se alastraram por três províncias (Neuquén, Río Negro e Chubut), deixando um rastro de destruição que se aproxima de 39 mil hectares, segundo levantamento do Greenpeace. A área equivale a quase o dobro do tamanho da capital Buenos Aires, de 20 mil hectares.

Há semanas a gestão de Milei aponta o RAM (Resistência Ancestral Mapuche), um grupo radical, como sendo o responsável pelo fogo. Os governadores de Chubut e de Río Negro também disseram que há provas de que os incêndios foram intencionais. O motivo real por trás do fogo, no entanto, ainda não foi esclarecido.
Até que nesta sexta-feira (14), por meio de um decreto, o Ministério da Segurança encabeçado por Patricia Bullrich decretou a RAM como uma organização terrorista. Ainda faltam pequenos trâmites envolvendo o Ministério de Relações Exteriores, mas a medida já está dada.
A área recentemente mais afetada foi a da pequena cidade de El Bolsón, em Río Negro, com cerca de 24 mil habitantes. Ali, com dez dias de fogo constante, 3.500 hectares foram tomados e 140 casas, destruídas. Ao menos um homem morreu. Os moradores se somaram aos bombeiros para controlar o fogo como puderam, até que uma pancada de chuva nesta semana aliviou os trabalhos de controle das chamas.
O grupo radical mapuche RAM ao longo de toda a última década teve diferentes confrontos com governos por disputas por terra. Uma das mais graves se deu justamente quando a linha-dura Bullrich ocupava o mesmo cargo, mas na gestão de Mauricio Macri, em 2017.
Foi quando, durante uma manifestação mapuche na Patagônia, o ativista Santiago Maldonado desapareceu, e seu corpo foi encontrado mais de dois meses depois em um rio. Até hoje o caso não foi resolvido.
As acusações atuais pelos incêndios recaem especialmente sobre Facundo Jones Huala, 38, autoproclamado líder mapuche e dirigente da RAM, a liderança indígena mais controversa do país.
Ele já foi preso na Argentina e chegou a ser extraditado ao Chile, onde foi condenado a nove anos de prisão por um ataque a uma fazenda e por porte ilegal de armas de fogo. Em agosto passado, Huala foi liberado e expulso do país, retornando para o território argentino.
No início deste mês, o governo Milei formalizou uma denúncia contra ele por intimidação pública, incitação a violência coletiva, apologia ao crime e associação criminosa. Há afirmações muito pouco detalhadas ou esclarecidas de que ele teria assumido a autoria dos incêndios.

Junto ao decreto no Diário Oficial, a pasta da Segurança apresentou um informe de 19 páginas no qual lista mais de 130 diferentes acusações contra o grupo mapuche desde 2010. O documento público descreve a agrupação como "um movimento étnico-nacionalista violento que opera no território argentino há mais de 15 anos".
E segue: "Seus ativistas cometem delitos contra a propriedade, a segurança pública, a ordem e as pessoas. Têm como objetivo promover uma luta de insurreição contra o Estado argentino e a propriedade privada da terra. A organização desconhece a soberania do Estado argentino e proclama que a República e suas leis são ilegítimas".
Os mapuches, povo originário do sul da Patagônia, espalham-se hoje entre território chileno e argentino. São, ao todo, mais de 1,8 milhão de pessoas. A maioria (cerca de 1,7 milhão) vive do lado chileno da fronteira, e uma minoria (145 mil) do argentino, segundo os últimos censos demográficos dos respectivos países.
Há diversos grupos que fazem reivindicações em níveis diferentes. Existem os que pedem demarcação de territórios, o direito à soberania e o ensino da cultura mapuche nas escolas. E há os mais radicais, que reivindicam o reconhecimento de uma nação mapuche independente.
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O governo de Javier Milei agora os acusa de "provocar uma catástrofe ecológica por meio do incêndio de dezenas de milhares de hectares de bosques milenares cuja recuperação será impossível por um número incalculável de gerações". A administração, por outro lado, é a mesma que avalia deixar o Acordo de Paris e que nega que o aquecimento global seja acelerado por ações humanas.
O governo do Brasil divulgou comunicado sobre os incêndios, lamentando a tragédia. E, em tom pouco consonante com a contraparte argentina, destacou que "a crise climática intensifica eventos extremos e torna desastres como esse cada vez mais frequentes, o que reforça a necessidade de ações urgentes e concertadas da comunidade internacional".
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