Eu não me lembro exatamente quando foi que a ideia de ser magra (e de me manter magra) tomou conta dos meus pensamentos. Pode ter sido ao ouvir as mulheres da família comentarem sobre seus corpos e corpos alheios, sempre usando linguagem agressiva. Pode ter sido ao observar todos ao meu redor fazendo dietas ou tendo uma relação esquisita com a comida. Pode ter sido na promessa quase silenciosa de que se eu me mantivesse magra e jovem, manteria o meu valor. O importante é não ficar desleixada, não deixar os números da balança e das etiquetas nas roupas subirem. Desde que eu me diminua o suficiente para não incomodar ninguémgerador sinal tiger bot, tudo fica bem.
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Quando criança, eu era extrovertida. Eu era sorridente, carismática, não tinha vergonha de dizer o que eu queria ou reclamar quando não gostava de algo. Alguma coisa mudou durante a pré-adolescência. Para além das mudanças hormonais, eu me tornei mais reclusa, mais quieta. Na escola passei a falar apenas quando questionada diretamente. Passei a recorrer às maiores camisetas de uniforme, a usar casaco de moletom no calor escaldante.
Fui me fechando em mim. Fui mais ríspida do que gostaria com todos que tentavam se aproximar motivados por uma preocupação de que eu estava definhando, a chama interna se extinguindo. "A luz interna apagou mas eu ainda funciono" se tornou minha piada/meme favorito para justificar o humor desanimador.
Não ajudou que tudo isso aconteceu durante os anos 2000, quando o culto da magreza extrema estava em seu auge em redes sociais como o Tumblr e o Twitter –onde circulavam frases como a de Kate Moss "nada tem o gosto tão bom quanto a magreza" junto de imagens de atrizes esqueléticas–, e durante a minha "fase emo", em que eu ouvia no mp3 as mais deprimentes de Nx Zero, Linkin Park, Simple Plan e até drogas mais pesadas, como The Smiths.
jogo tigrinhoO meu objetivo era ficar doente, apesar de não entender isso na época. Aprendi a mascarar a fome, a tristeza, a ansiedade. Se me perguntassem, eu diria que estava muito focada nos estudos. O que era verdade. Deus me livre de ser feia e burra.
É aí que estava o problema: mesmo mantendo o peso e as etiquetas em um número "aceitável", eu ainda não me achava bonita. E provavelmente realmente não estava, já que não me alimentava o suficiente para ter um desenvolvimento saudável. Os elogios ao corpo começaram a ganhar ares de preocupação, mas o que realmente me pegou foi perceber a confusão mental que a desnutrição causa. Deus me livre de ser feia e burra.
Foi retomando aos pouquinhos as refeições normais que eu consegui passar no vestibular, me formar na universidade, conseguir estágio, emprego, trabalhar, me virar sozinha. Mas o transtorno alimentar é uma companhia volátil. Tem tempos em que ele fica dormindo, quietinho, no quarto de visitas e tem tempos em que ele faz um escândalo na porta de casa para todo mundo ver.

Mas ninguém vê, exatamente. Não como eu vejo, quando todo e qualquer alimento parece pesar uma tonelada no meu estômago, quando os contornos de mim mesma começam a borrar, quando eu me pego pensando que o meu valor ainda é atrelado a números: da balança, da minha roupa, das calorias ingeridas, das calorias queimadas, das atividades que eu não tenho energia para executar, da minha idade que não para de subir, apesar de tudo.
O tempo é um construto social. A gente passou a contar desse jeito e se importar tanto com ele a partir da Revolução Industrial. Foi aí que surgiram os relógios. Repito como um mantra. O tempo é inescapável e incontrolável. O tempo vai passar de qualquer maneira. Minha idade não é um prazo de validade. Não tem porque perseguir o corpo que eu tinha quando estava doente e pré-púbere sendo uma mulher adulta. Deus me livre de ser feia e burra.
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